Em 14 de julho de 2002, quando o Esporte Clube 14 de Julho – o LEÃO DA FRONTEIRA – completou 100 anos, tive a satisfação em publicar uma crônica, que agora transcrevo abaixo, para recordar o meu pai e renovar a homenagem ao “LEÃO”, que se confunde com a história esportiva desta Fronteira da Paz, pois naqueles idos falar em esporte, era falar nas façanhas do velho Leão da Fronteira, sem que isto viesse a desmerecer a seus co-irmãos.
ERNESTO LEVY
Ernesto Levy (1905-1977) foi o meu pai e de meus dois irmãos. Antes disto, porém, ele foi quatorzeano. Não tenho dúvidas que ele nos amou como parte de sua carne, mas o 14 de Julho, ah o 14 de Julho, este era diferente para ele. Ele jamais me contou como teria começado ou surgido aquele amor ou entrelaçamento entre ele e um clube de futebol. Se era amor, nada tinha de platônico ou recôndito, pela sua intensidade, vibração, afeição e volúpia. Enfim, decorridos 25 anos de seu passamento, hoje não saberia identificar aquela relação que vingou entre eles como doença ou paixão, quem sabe a multiplicação de uma pela outra. O 14 de Julho, para o meu pai, não era um ente ideal ou propriamente difuso. Em suas conversas o 14 sempre teve personalidade própria e era referido nos colóquios na terceira pessoa do singular, como outro de seus mais íntimos.
Falecendo meus avós paternos em 1929 e sendo o meu pai o maior entre os irmãos homens, assumiu e continuou os negócios do meu avô na “Agência Levy”, que ocupava um prédio localizado na Rua Rivadávia Correa, quase esquina da General Câmara. Ao mesmo tempo em que ali funcionava a casa lotérica, o local também passou a ser ocupado por uma “república” de jovens que treinavam e jogavam no 14. Pelo que ele contava, não eram poucos os que ali moravam ou usavam o ponto para reuniões. O certo é que a “Agência” era o endereço encontradiço de todos aqueles quatorzeanos de então. É possível, presumo, que a ausência repentina e quase simultânea de seus ascendentes tenha feito o meu pai transmudar o seu carinho e dedicação para um objetivo ideal, que aglutinou a ele e seus amigos, ou seja, a prática esportiva e a representação clubísta em torno da bandeira rubro-negra do 14 de Julho.
O casamento e a prole vieram naturalmente para o meu pai, todavia o seu apego ao 14 não desvaneceu e nem foi motivo para transferências afetivas. O Leão da Fronteira continuou sendo o mesmo, destacado e insubstituível em nosso lar. Por ser o primogênito, ele me fez sócio do 14 aos cinco anos de idade, tendo muito orgulho, brio e honra, igualando-me a tantos outros santanenses que se irmanavam pela mesma paixão.
A minha carteira social (para o meu pai seria a minha segunda certidão de nascimento), expedida há 55 anos, é uma relíquia e a prova de que herdei o mesmo gene que me faz também quatorzeano. Ele presidiu o 14 em várias oportunidades e desejava que os seus filhos seguissem seus passos, prestando serviços e assumindo responsabilidades para a continuidade das glórias do Leão. Lamentavelmente, nem sempre se consegue atender e cumprir os anseios de nossos antepassados. Foto abaixo: Dr Levy ao centro presidindo reunião do conselho.
ERNESTO LEVY
Ernesto Levy (1905-1977) foi o meu pai e de meus dois irmãos. Antes disto, porém, ele foi quatorzeano. Não tenho dúvidas que ele nos amou como parte de sua carne, mas o 14 de Julho, ah o 14 de Julho, este era diferente para ele. Ele jamais me contou como teria começado ou surgido aquele amor ou entrelaçamento entre ele e um clube de futebol. Se era amor, nada tinha de platônico ou recôndito, pela sua intensidade, vibração, afeição e volúpia. Enfim, decorridos 25 anos de seu passamento, hoje não saberia identificar aquela relação que vingou entre eles como doença ou paixão, quem sabe a multiplicação de uma pela outra. O 14 de Julho, para o meu pai, não era um ente ideal ou propriamente difuso. Em suas conversas o 14 sempre teve personalidade própria e era referido nos colóquios na terceira pessoa do singular, como outro de seus mais íntimos.
Falecendo meus avós paternos em 1929 e sendo o meu pai o maior entre os irmãos homens, assumiu e continuou os negócios do meu avô na “Agência Levy”, que ocupava um prédio localizado na Rua Rivadávia Correa, quase esquina da General Câmara. Ao mesmo tempo em que ali funcionava a casa lotérica, o local também passou a ser ocupado por uma “república” de jovens que treinavam e jogavam no 14. Pelo que ele contava, não eram poucos os que ali moravam ou usavam o ponto para reuniões. O certo é que a “Agência” era o endereço encontradiço de todos aqueles quatorzeanos de então. É possível, presumo, que a ausência repentina e quase simultânea de seus ascendentes tenha feito o meu pai transmudar o seu carinho e dedicação para um objetivo ideal, que aglutinou a ele e seus amigos, ou seja, a prática esportiva e a representação clubísta em torno da bandeira rubro-negra do 14 de Julho.
O casamento e a prole vieram naturalmente para o meu pai, todavia o seu apego ao 14 não desvaneceu e nem foi motivo para transferências afetivas. O Leão da Fronteira continuou sendo o mesmo, destacado e insubstituível em nosso lar. Por ser o primogênito, ele me fez sócio do 14 aos cinco anos de idade, tendo muito orgulho, brio e honra, igualando-me a tantos outros santanenses que se irmanavam pela mesma paixão.
A minha carteira social (para o meu pai seria a minha segunda certidão de nascimento), expedida há 55 anos, é uma relíquia e a prova de que herdei o mesmo gene que me faz também quatorzeano. Ele presidiu o 14 em várias oportunidades e desejava que os seus filhos seguissem seus passos, prestando serviços e assumindo responsabilidades para a continuidade das glórias do Leão. Lamentavelmente, nem sempre se consegue atender e cumprir os anseios de nossos antepassados. Foto abaixo: Dr Levy ao centro presidindo reunião do conselho.
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